Por que as eleições ‘off-year’ americanas podem sacudir o tabuleiro nacional
Enquanto o mundo presta atenção nas presidenciais e nas disputas do Congresso, americanos de diversos estados vão às urnas nesta terça (4) em eleições locais que podem redefinir o equilíbrio de forças nos EUA e testar o fôlego de Trump
Nos Estados Unidos, as chamadas “off-year elections” são aquelas realizadas em anos ímpares, como 2025, quando não há eleição presidencial nem de meio de mandato (as midterms).
Nessas ocasiões, os americanos votam para governadores, assembleias estaduais, prefeitos e câmaras municipais, além de referendos e medidas locais. Ou seja, é um pleito descentralizado, mas que carrega implicações nacionais.
O termo “off-year” vem justamente da ideia de que o país está “fora do ciclo” eleitoral federal. Ainda assim, essas eleições funcionam como um laboratório político: testam estratégias, mensagens e alianças partidárias — e servem de termômetro para o humor do eleitorado antes dos grandes embates de 2026 e 2028.
Como funcionam
A data é tradicional: a primeira terça-feira após a primeira segunda-feira de novembro – neste ano, 4 de novembro de 2025.
Por não serem eleições presidenciais, o comparecimento tende a cair, o que dá poder extra aos grupos e partidos que conseguem mobilizar suas bases.
Mesmo assim, as decisões locais costumam impactar diretamente o dia a dia — impostos, transporte, habitação, segurança e políticas sociais são definidas nesses pleitos.
Onde acontecem e quais cargos estão em disputa
Em 2025, os americanos votam em uma ampla variedade de cargos estaduais e municipais.
Governadores: apenas dois estados elegem novos governadores este ano – Virginia e Nova Jersey. São eleições históricas por acontecerem sempre em anos “off-year”, tornando-se uma vitrine para medir o humor político nacional.
Legislaturas estaduais: duas assembleias legislativas estaduais também renovam suas cadeiras. Esses parlamentos controlam leis locais, orçamentos e políticas de redistribuição distrital (que influenciam eleições federais futuras).
Prefeituras e conselhos locais: em mais de 30 estados, cidades e condados elegem prefeitos, vereadores e promotores distritais. Segundo o portal BoltsMag, são cerca de 190 disputas locais em todo o país — de pequenas cidades do interior até metrópoles como Nova York, Houston e Seattle.
Medidas e referendos: alguns estados também votam em propostas de leis locais, como reformas no sistema de fianças, regulação de energia e mudanças em políticas educacionais.
Essas eleições, embora municipais, são monitoradas pelos grandes partidos como testes de narrativa nacional — principalmente quando envolvem candidatos com projeção fora de seus estados.
Por que isso importa
- Termômetro político nacional: os resultados de 2025 servem como sinal de alerta ou confiança para os grandes partidos. Um desempenho fraco dos republicanos, por exemplo, pode sugerir desgaste do governo Trump e fortalecer democratas nas eleições de 2026.
- Controle dos estados: governadores e legislaturas estaduais controlam políticas-chave, desde leis eleitorais até distribuição de recursos federais. Quem dominar esses cargos em 2025 chega mais forte para desenhar o mapa político de 2026.
- Poder de mobilização: partidos medem a força de suas bases em ciclos “frios”. Campanhas locais revelam quem consegue levar eleitores às urnas mesmo sem o apelo presidencial.
- Laboratório de estratégias: é comum que as campanhas “testem” discursos, temas e formatos de comunicação nessas eleições — antes de usá-los em escala nacional.
Disputa em Nova York e polêmica nacional
O maior foco da imprensa hoje é a eleição municipal em Nova York, onde a disputa pela prefeitura ganhou dimensão nacional após as declarações do presidente Donald Trump.
O socialista-democrata Zohran Mamdani, deputado estadual e aliado da ala progressista dos democratas, lidera as pesquisas. Trump, por outro lado, apoia o ex-governador Andrew Cuomo (candidato independente) e ameaçou bloquear verbas federais caso Mamdani vença.
“Se o comunista Mamdani vencer, é altamente improvável que Nova York receba um centavo além do mínimo exigido”, declarou Trump.
Essa fala acendeu o alerta entre autoridades locais e juristas. Nova York depende de 7,4 bilhões de dólares em repasses federais anuais — cerca de 6,4% do orçamento total da cidade.
Por lei, o presidente não pode cortar unilateralmente recursos já aprovados pelo Congresso, segundo o Impoundment Control Act de 1974. Mesmo assim, a ameaça mostra como Trump busca usar a alavanca federal como arma política.
O governador do Texas, Greg Abbott, também criticou o modelo eleitoral de Nova York, chamando-o de “confuso e desequilibrado” e alegando que o sistema favorece candidatos de esquerda. Abbott afirmou que “o federalismo americano não pode ser usado como escudo para incompetência urbana”.
Na prática, essas críticas ecoam uma disputa maior: a polarização entre estados conservadores e progressistas e a tentativa de Trump e aliados de consolidar influência sobre governos locais — inclusive em bastiões democratas.
Mapa geral das eleições de 2025
- Governador: Virginia e Nova Jersey — mede força dos partidos e prepara terreno para 2026.
- Legislaturas estaduais: 2 estados — define controle de leis e distritagem eleitoral.
- Prefeituras e conselhos locais: mais de 30 estados, cerca de 190 disputas — mostra engajamento das bases e tendências políticas urbanas.
- Referendos e medidas: estados diversos — testam temas sensíveis como aborto, segurança e impostos.
Essas eleições funcionam como um barômetro político: se democratas tiverem bom desempenho em cidades grandes, isso pode indicar desgaste do trumpismo; se republicanos vencerem em estados-chave como Virgínia, reforçam o controle do partido em áreas estratégicas.
As eleições “off-year” de 2025 não escolhem o presidente — mas moldam o terreno sobre o qual ele será julgado.
São o ensaio geral do poder, onde prefeitos, governadores e legisladores definem não apenas leis locais, mas o humor de um país profundamente dividido.
Para Trump, são uma chance de testar sua influência fora de Washington. Para os democratas, uma oportunidade de medir a resistência ao trumpismo e fortalecer a ala progressista.
No fim do dia, o que parece apenas uma eleição municipal pode, na verdade, redesenhar a política americana — voto a voto, condado por condado.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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